Mobilização de pacientes críticos em unidade de
tratamento intensivo
O
exercício terapêutico é considerado um elemento central na maioria dos planos
de assistência da fisioterapia, com a finalidade de aprimorar a funcionalidade
física e reduzir incapacidades35. Inclui uma ampla gama de
atividades que previnem complicações como encurtamentos, fraquezas musculares e
deformidades osteoarticulares e reduzem a utilização dos recursos da
assistência de saúde durante a hospitalização ou após uma cirurgia. Estes
exercícios aprimoram ou preservam a função física ou o estado de saúde dos
indivíduos sadios e previnem ou minimizam as suas futuras deficiências, a perda
funcional ou a incapacidade 1.
O
desenvolvimento de fraqueza generalizada relacionada ao paciente crítico é uma
complicação importante e comum em muitos pacientes admitidos em uma unidade de
terapia intensiva (UTI) 3. Sua incidência ocorre em 30% a 60% dos
pacientes internados em UTI.
Além de suas condições prévias, vários são os fatores que
podem contribuir para ocorrência desta fraqueza, incluindo: inflamações
sistêmicas, uso de alguns medicamentos, como corticóides, sedativos e
bloqueadores neuromusculares, descontrole glicêmico, desnutrição,
hiperosmolaridade, nutrição parenteral, duração da ventilação mecânica e
imobilidade prolongada 21,32.
O
imobilismo acomete os sistemas musculoesquelético, gastrointestinal, urinário,
cardiovascular, respiratório e cutâneo37. O desuso, como no repouso,
inatividade ou imobilização de membros ou corpo e a perda de inervação nas
doenças ou injúrias promovem um declínio na massa muscular, força e endurance.
Com a total imobilidade, a massa muscular pode reduzir pela metade em menos de
duas semanas, e associada à sepse, declinar até 1,5 kg ao dia17.
Estudos experimentais com indivíduos saudáveis demonstraram uma perda de 4% a
5% da força muscular por semana. Nos casos em que a conexão neural para o
músculo é destruída, a atrofia muscular ocorrerá mais rapidamente. A ligação
entre hiperglicemia e fraqueza pode estar relacionada aos efeitos tóxicos da
mesma, contrariada pelo efeito neuroprotetor e anti-inflamatório da insulina23.
Todos
estes fatores associados contribuem para um prolongamento no tempo de sua
estada na UTI resultando em maiores riscos para complicações, aumento nos
índices de mortalidade e custos mais elevados18. Distúrbios
emocionais como a ansiedade e depressão aumentam o tempo de internação com
aumento dos déficits físicos e podem afetar a funcionalidade e consequente
qualidade de vida destes pacientes de um a sete anos após o evento,
comprometendo-os socialmente 33.
Intervenções precoces são necessárias para
prevenir problemas físicos e psicológicos. A atividade terapêutica deve ser
iniciada precocemente, para evitar os riscos da hospitalização prolongada e
imobilidade, podendo ser uma das chaves para a recuperação do paciente 32.
O
paciente crítico internado em UTI apresenta restrições motoras graves11.
O posicionamento adequado no leito e a mobilização precoce do paciente podem
significar as únicas possibilidades de interação do indivíduo com o ambiente e
devem ser considerados como fonte de estimulação sensório-motora e de prevenção
de complicações secundárias ao imobilismo8.
Poucos
são os estudos que abordam o papel da cinesioterapia em pacientes críticos, que
na fase inicial são vistos como "muito doentes" ou "muito
instáveis clinicamente" para intervenções de mobilização11.
Porém, os exercícios terapêuticos demonstram benefícios, principalmente quando
iniciados precocemente, apesar das variedades de abordagens. Postergar o início
dos exercícios apenas colabora para intensificar o déficit funcional do
paciente8.
TREINAMENTO DA MUSCULATURA
RESPIRATÓRIA.
Força
Muscular Respiratória
Para Kisner & Colby (2005), a força muscular é um termo amplo que se
refere à habilidade do tecido contrátil de produzir tensão e uma força
resultante com base nas demandas impostas sobre o músculo. Mas especificamente,
força muscular é a maior força mensurável que pode ser exercida por um músculo
ou grupo muscular para vencer uma resistência durante um esforço máximo único.
Quanto à força da musculatura ventilatória, o autor define como sendo a
pressão máxima ou mínima desenvolvida dentro do sistema respiratório a um
específico volume pulmonar (MIRANDA 2002).
O desempenho ventilatório depende não apenas das propriedades mecânicas
dos pulmões (vias aéreas e parênquima) e da parede torácica, mas também da ação
dos músculos respiratórios, os músculos expiratórios: reto abdominal, oblíquo
interno, oblíquo externo, transverso, porção interóssea do intercostal interno)
e inspiratórios: escalenos, intercostal externo e porção intercondral do
intercostal interno e acessórios: peitoral maior, peitoral menor, trapézio,
serrátil anterior e esternocleidomastóideo (AULER,1995).
Segundo
Franco 2003, os músculos respiratórios são músculos estriados que quando
comparados aos músculos esqueléticos da periferia, apresentam maiores fluxo
sanguíneo, capacidade oxidativa e resistência à fadiga. Entretanto, quando
ocorre disfunção desta musculatura e a demanda ventilatória excede sua
capacidade, podem ocorrer episódios de hipoventilação e hipoxemia (DE TROYER,
1998). Vários mecanismos podem contribuir para o desequilíbrio entre a
resistência e a capacidade dos músculos respiratórios e consequentemente a sua
disfunção (SPRAGUE, 2003).
Demonstra
Koenig (2001), que à ineficácia dos músculos respiratórios, da força muscular e
da endurance desses músculos podem levar a uma sobrecarga inspiratória,
aumentando o trabalho respiratório, o consumo de oxigênio e o custo energético
da respiração. De acordo com Reid (1995), os pacientes com comprometimento
respiratório apresentaram disfunção muscular, o que contribui para intolerância
aos exercícios, dispnéia e hipercapnia. Os sintomas podem ser prevenidos ou
reduzidos com um esquema de treinamento muscular respiratório efetivo.
O
treinamento dos músculos inspiratórios é utilizado para treinar o diafragma e
os músculos acessórios que estão enfraquecidos por paralisia parcial, desuso
por ventilação artificial prolongada ou repouso prolongado no leito (UMPHRED,
2004). É de grande importância o treinamento muscular inspiratório, visto que,
ele restabelece a função muscular respiratória, melhora força e resistência,
alcançando uma readaptação progressiva aos esforços (MENDES, 2006).
Já a fadiga dos músculos ventilatórios, principalmente, o diafragma e
outros músculos inspiratórios constituem um importante problema clínico, pois é
uma via comum final em direção à insuficiência respiratória. A diminuição da
força ou resistência muscular pode acarretar no surgimento prematuro da fadiga
dos músculos ventilatórios, bem como a anormalidade da parede torácica e da
mecânica pulmonar, além de volumes anormais que somados irão comprometer as
capacidades geradoras de pressão dos músculos inspiratórios (IRWIN &
TECKLIN, 1994).
Endurance Muscular
Resistência à fadiga é um termo amplo que se refere à habilidade de
realizar atividades de baixa intensidade, repetitivas ou sustentadas, por um
tempo prolongado (KISNER e COLBY 2005).
Ainda citando Kisner e Colby (2005), a
resistência muscular à fadiga é a habilidade de um músculo contrair-se
repetidamente contra uma carga (resistência), gerar e manter tensão e resistir
à fadiga por um extenso período de tempo.
Segundo Knobel (2004), endurance muscular é a capacidade do
músculo em oferecer resistência à fadiga, em um determinado tempo de trabalho.
A capacidade de endurance muscular
depende do tipo de fibras, do suprimento sanguíneo e da integridade dos
elementos contráteis.
Autor: Daniel Xavier
@intensivistaxavier
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