ÍNDICE DE FALÊNCIA NA EXTUBAÇÃO OROTRAQUEAL EM UMA UTI ONCOLÓGICA
NA AMAZÔNIA OCIDENTAL
Juliana SantosI; Raimecilane VieiraI; Maria Dinorah
SantosI; Minelvina AmorimI; Daniel XavierII
I. Instituto Amazonense de
Aprimoramento e Ensino em Saúde – IAPES;
II. Fundação Centro Controle de
Oncologia do Amazonas – FCECON.
Resumo
A ventilação mecânica (VM), a intubação e extubação são procedimentos rotineiros em UTI’s, porém oferecem grandes riscos ao paciente, podendo ocorrer sucesso ou falência de extubação. O objetivo do presente estudo foi identificar e analisar os índices de falência na extubação orotraqueal em uma UTI Oncológica. O estudo é descritivo, quantitativo e seguido por um estudo de coorte prospectivo, onde foi realizado dois meses de levantamento e análise de dados. De um total de 57 extubações realizadas, 82,5% tiveram êxito e em 17,5% ocorreram falhas, sendo a classe que obteve menor índice de falha utilizou o IDV. O estudo confirmou que a utilização de índices preditivos para a extubação reduz o índice de falência.
Palavras-chave: Unidades de Terapia Intensiva. Extubação. Respiração Artificial.
Abstract
Mechanical ventilation (MV), intubation and extubation are routine procedures in ICUs, but offer great risks to the patient and can occur success or failure of extubation. The aim of this study was to identify and analyze the failure rates in tracheal extubation in a Oncology ICU. The study is descriptive, quantitative and followed by a prospective cohort study, which was conducted two months of data gathering and analysis. Of a total of 57 extubations performed, 82.5% were successful and failure occurred in 17.5%, and the class that had lower failure rate IDV used. The study confirmed that the use of predictive indices for extubation reduces the failure rate.
Keywords: Intensive Care Units. Extubation. Artificial Respiration.
1. INTRODUÇÃO:
O diagnóstico de neoplasia parece ser um agravante para admissão do
paciente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em estudo francês que avaliou
a admissão de pacientes oncológicos na UTI, verificou-se que 49% são recusados
por apresentarem a doença (THIERY, 2005; AMENDOLA et al, 2006).
No entanto, segundo Albergaria (2007) apud Xavier (2012), uma UTI de Hospital Oncológico guarda
características próprias em relação às UTIs gerais, pois permite admissão de
pacientes que não teriam espaço em outras unidades por questões éticas e
necessidade constante de rotatividade pela falta de vagas. Muitos dos pacientes
internados em unidades de terapia intensiva (UTI) necessitam de suporte
ventilatório.
A ventilação
mecânica (VM) e intubação são procedimentos rotineiros em UTI’s. Mesmo assim,
alguns estudos demonstraram que a VM oferece grandes riscos ao paciente, o que
leva o aumento do tempo da mesma, maior tempo de internação, altos custos
hospitalares, maior chance de traqueostomia e maiores riscos de
morbimortalidade. (GONÇALVES et al,
2007; HAHN, 2011; SAVI, 2012).
Segundo Reis et al (2013) na maioria dos pacientes a
retirada da VM ocorre com sucesso, mas uma proporção desses apresenta falência
de extubação, ou seja, há necessidade de reintubação após 24-72 horas da retirada da TQT.
Há uma grande
importância à utilização de protocolos desde o desmame até o momento da
extubação, pois estes são elaborados para que o desmame da VM seja realizada de
forma mais segura, eliminando os possíveis fatores que levariam a complicações
e posteriormente a falha da extubação, evitando assim o aumento das
morbimortalidades (PAREDES, 2013).
O Teste de Respiração Espontânea (TER) é utilizado para verificar a
tolerância do paciente à respiração espontânea por 30 minutos a 2 horas. Pode
ser realizado com a pressão de suporte (PS) de 6 a 7 cmH2O, em
pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) de 5 cmH2O ou
respiração espontânea por tubo T, recebendo apenas oxigênio (RIBEIRO et al, 2013).
O Índice de Desmame Ventilatório (IDV) Ferrari-Tadine (2004), tendo como
base a análise multifatorial no desmame da VMI, mensurando, criteriosamente, os
parâmetros: escala de Glasgow, volume corrente, FIO2, frequência
respiratória, saturação de O2, PaCO2, PaO2,
pressão inspiratória máxima, pressão suporte e idade, dando uma pontuação de 1 a 3 para cada um, tem-se por
fim uma pontuação, sendo enquadrada na Classe Pontuação Prognóstico, dividida
em: Classe I, de 27-30 pontos, extubação indicada; Classe II, 23-26 pontos,
extubação favorável; Classe III, 20-22 pontos, extubação desfavorável; e Classe
IV, < 19, extubação contra-indicada (RIKER & XAVIER, 2012).
2.
MATERIAIS E METÓDOS
Estudo descritivo, exploratório, quantitativo e transversal,
seguido por um estudo de coorte prospectivo em seres humanos, onde o objeto de
pesquisa foi acompanhado por um período de 48 horas, tempo este que determinou
o sucesso ou a falha no processo de extubação do tubo oro traqueal (TOT). Foram coletados os
seguintes dados: nome, idade, sexo, dias de internação na UTI, diagnóstico
clínico, patologia de base, classe profissional responsável pela realização da
extubação (outra classe profissional ou classe fisioterapêutica), índices preditivos
utilizados para desmame, dia da extubação e complicações presentes no quadro do
paciente que geraram falha no desmame. Os dados foram coletados durante dois
meses, fevereiro à março de 2015.
Os pacientes elegíveis para a extubação foram submetidos ao
teste de respiração espontânea (TRE), e segundo resposta à terapêutica, foi
aplicado o índice preditivo para a extubação do TOT, o IDV, ressaltando que o
índice citado anteriormente foi aplicado somente pela equipe fisioterapêutica.
Para a realização dos testes os indivíduos passaram pela intervenção de manobra
de higiene brônquica, posicionados em decúbito dorsal, semirrecostados e sob
monitorização clínica.
A pesquisa contou com uma amostra de 57 pacientes com idade entre 20 a 88 anos, de ambos os sexos,
internados na UTI de um hospital oncológico na Amazônia Ocidental. Foram
incluídos no estudo, indivíduos em VM intubados com TOT por tempo superior ou
igual a 24 horas, submetidos ao processo de extubação após obtenção de sucesso
no TRE, depois do aval da equipe. No presente estudo, utilizou-se como critério
de exclusão os indivíduos traqueostomizados, instáveis hemodinamicamente
(clínica desfavorável), pacientes em desmame difícil, que foram submetidos ao
processo de desmame (IDV) e falharam durante o procedimento do mesmo (Tabela
1).
Tabela 1 – Caracterização da amostra.
Idade
|
Sexo
|
Neoplasias
|
|||||||||||
20-30
|
31-40
|
41-50
|
51-60
|
61-70
|
71-80
|
81-90
|
Feminino
|
Masculino
|
Gástrica
|
Pâncreas
|
Mama
|
Útero
|
Outras
|
2
|
10
|
9
|
11
|
10
|
14
|
1
|
34
|
23
|
17
|
6
|
5
|
7
|
22
|
Total 57
|
3.
RESULTADOS
Após a análise detalhada dos dados
coletados dos pacientes avaliados e submetidos ao processo de extubação
orotraqueal (57 extubações) obtivemos como resultado, 47 êxitos e 10 falhas. Destes,
47 procedimentos foram realizados pela equipe de fisioterapia do setor,
utilizando o IDV, representando 82,47% do total de procedimentos e, 10 (17,53%)
realizados por outra classe profissional. As falhas correspondem ao retorno do
paciente à ventilação mecânica, sendo reintubado no período de 48 horas após a
extubação.
Das intervenções que não obtiveram
sucesso, de um total de 47 intervenções realizadas pela equipe fisioterapêutica,
apenas 5 (10,64%), acarretaram em falha no processo de extubação, o que revela
um alto grau de eficiência, quando o procedimento é realizado utilizando o IDV.
Por outro lado, 5 (50%) de falhas ocorreram nas 10 intervenções realizadas pela
outra classe de profissionais, sem utilização do IDV (Tabela 2).
Tabela 2 –
Distribuição do número de extubações orotraqueal com índice de falência em
valores absolutos e percentuais de acordo com a classe profissional.
|
Extubações
|
Classes
|
||||
Fisioterapeutas
|
Outra
|
|||||
Nº
|
%
|
Nº
|
%
|
Nº
|
%
|
|
Sucesso
|
47
|
82,5
|
42
|
89,4
|
5
|
50,0
|
Falhas
|
10
|
17,5
|
5
|
10,6
|
5
|
50,0
|
Total
|
57
|
100
|
47
|
100
|
10
|
100
|
Ao compararmos a intervenção realizada pelas
classes profissionais, verificamos uma diferença estatisticamente significativa
quanto aos valores percentuais de sucesso e falha nos procedimentos de
extubações orotraqueal (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Comparação entre sucesso e falha
nos procedimentos de extubações orotraqueal em valores absolutos e percentuais
de acordo com a classe profissional.
4.
DISCUSSÃO
Analisando
os dados coletados em nosso estudo verificamos que das 57 extubações
realizadas, 47 cursaram com êxito e em 10 ocorreram falhas. Dentre o percentual
de falhas, evidenciou-se que o maior índice de falência ocorreu na classe
profissional que não utilizou o protocolo de índice preditivo para extubação,
ressaltando que a equipe fisioterapêutica utilizou o protocolo em todas as
extubações que executou.
Nossos
dados estão de acordo com os resultados encontrados no trabalho de Francisco (2010)
e de Nemer (2011), que seguindo um protocolo fisioterapêutico acarreta uma
melhora na condução do desmame, mantendo um alto índice de sucesso, evitando as
falhas no processo de desmame, tempo de internação e custos hospitalares.
Nos
resultados obtidos podemos observar que o índice maior de falha ocorreu na
equipe que não utilizou o protocolo de desmame, porém uma pequena porcentagem
de falhas na extubação ocorreram na equipe em que o protocolo foi utilizado. Algumas
variáveis como: número da amostra, patologia de base, gênero, idade, tempo de
internação podem ter influenciado no percentual de falhas em ambas as equipes.
5. CONCLUSÃO
Através dos resultados obtidos
em nossa pesquisa, podemos concluir que a utilização de um protocolo de índice
preditivo para a extubação reduz significativamente o índice de falência,
consequentemente diminuindo a reintubação e os efeitos adversos da ventilação
mecânica invasiva, minimizando a morbimortalidade, diminuindo dias de
internação e custos hospitalares gerados.
No intuito de trazer maior
segurança no processo de extubação esperamos que, esse estudo sirva de base
para que outras pesquisas sejam realizadas, com um número maior de amostras,
levando em consideração outros fatores que podem influenciar nos índices de
insucesso.
Neste contexto, sugerimos a
instituição de um protocolo de índices preditivos para extubação em toda a
unidade de terapia intensiva para que seja utilizado por toda equipe
multidisciplinar.
REFERÊNCIAS
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THIERY, E.; AZOULAY, E.; DARMON, M.,
et al. Outcome of cancer patients
considered for intensive care unit admission: A hospital wide prospective
study. J Clin Oncol, 2005; 23: 4406-4413.
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AMENDOLA,
C. P.; ALMEIDA, S. L. S.; HORTA, V. M. et al. A doença oncológica não deve ser um fator limitante para
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bras. ter. intensiva. 2006; 18(3): 251-255.
3.
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D. M. Perfil de clientes internados na unidade de terapia intensiva de um
hospital oncológico. Revista Científica da Faminas. Muriaé;
2007; v.3, n.1, sup. 1, p.63.
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XAVIER, D. S. O
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2012. [on-line]. Disponível em:
. Acesso 23 abr.
2015.
5.
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mecânica em hospitais do Distrito Federal. Rev. bras. ter. intensiva, Mar 2007,
vol.19, no.1, p.38-43.
6.
HAHN,
C. E. B. Índice de respiração rápida e
superficial como preditor de sucesso de extubação da ventilação mecânica
invasiva: avaliação em uma população geral de pacientes críticos e subdivididos
em diferentes comorbidades. 2011. 67 f . [dissertação de mestrado]. Programa de
Pós-graduação em Ciências da Saúde: Cardiologia e Ciências Cardiovasculares,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2011.
7.
SAVI,
Augusto. Preditores de desmame da
extubação. 2012. 115
f . [Tese de Doutorado]. Programa de Pós-graduação em
Medicina: Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre - Rio Grande do Sul, 2012.
8.
REIS,
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falência da extubação influencia desfechos clínicos e funcionais em pacientes
com traumatismo cranioencefálico Jornal Brasileiro de Pneumologia, 2013.
9.
PAREDES, E. R.; NAVILLI JUNIOR, V.;
OLIVEIRA, A. C. T. de. Protocolo de prevenção de falha de extubação como
estratégia para evitar as complicações da reintubação precoce. Revista UNILUS
Ensino e Pesquisa, v. 10, n. 19, 2013.
10.
RIBEIRO, S.; GONTIJO, V. P.; DIAS, K. S.; FERNANDES, C.; MECANICA,
D. V. Falhas Terapêuticas e Desmame Prolongado. Profisio, v. 4, p. 11-38,
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11.
FERRARI, D.; TADINE, R. Índice
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em: . Acesso 23
abr. 2015.
12.
RIKER,
L. P. L, XAVIER L. Índices preditivos utilizados para o desmame ventilatório na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI): um estudo sistemático sobre Índice de Tobin
e Índice de Desmame Ventilatório (IDV), 2012.
13.
FRANCISCO, M. G. Análise de um protocolo de desmame,
durante o processo de retirada gradual da ventilação mecânica em pacientes
internados na UTI do HSJ, Criciúma/SC, no período de outubro à novembro de
2010. Criciúma, 2011.
14.
NEMER,
N. S; BARBAS, V. S. C. Parâmetros preditivos para o desmame da ventilação
mecânica-Artigo de revisão. J Bras Pneumol. 2011;37(5):669-679.
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