A FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM PACIENTES COM HIPERTENSÃO INTRACRANIANA: Revisão de Literatura.
Orientador: Daniel Xavier
Autores:ANDREIA DA SILVA RAMOS
ANISIA FIGUEIRA MATOS
Parte I
- Introdução
Quando um paciente é admitido na unidade de terapia intensiva neurológica, uma das principais preocupações da equipe multidisciplinar em saúde, no qual a fisioterapia respiratória está inclusa, é evitar o aumento da pressão intracraniana (PIC) levando assim, a alteração do fluxo sanguíneo cerebral, avaliado através da Pressão de Perfusão Cerebral (PPC). O aumento da PIC, também chamado de Hipertensão Intracraniana (HIC), pode ocorrer em indivíduos vítimas de traumatismo crânio-encefálico (TCE), acidente vascular encefálico (AVE) ou craniotomias. Estima-se que 40 a 60% dos pacientes em coma induzido ou com lesão cerebral terão HIC (KNOBEL, 2002).
Para Toledo et al., (2008), reconhecer e tratar a hipertensão intracraniana (HIC) deve ser medidas tomadas instantaneamente. Lesões cerebrais secundárias são consequentes de causas sistêmicas e intracranianas, podendo levar ao desenvolvimento de sequelas funcionais, psicológicas, comportamentais e cognitivas, com significante ônus para a reabilitação e impedimento de reintrodução psicossocial e familiar do paciente.
Pacientes neurológicos, com escala de coma de Glasgow ≤8, são frequentemente submetidos à monitorização da pressão intracraniana (PIC), pressão arterial média (PAM) e da pressão de perfusão cerebral (PPC) e tratados com um protocolo exigente de assistência, que inclui sedação, elevação da cabeceira do leito, ventilação mecânica invasiva (VMI) e fisioterapia respiratória e motora (SCHIMPF, 2012).
Jantzen, (2007) descreve que, para pacientes adultos, a HIC é definida como a presença de medida de pressão intracraniana (PIC) acima de 20 mmHg, que persiste por mais de 20 minutos. São considerados como valores normais ou desejáveis, valores de PIC< que 10 mmhg (tolerada até 20 mmHg), pressão de perfusão cerebral (PPC) > de 70 mmHg e a pressão arterial média (PAM) entre 70 e 110 mmHg (JANTZEN, 2007).
Para Sarmento, 2007, o aumento de volume de um componente intracraniano obriga a redução de outros componentes, visando não ocorrer o aumento da PIC. No entanto, quando se esgotam tais mecanismos de compensação, consequentemente ocorre a elevação da mesma, resultando na diminuição da perfusão tecidual, levando ao agravamento de dano celular por isquemia tendo como consequência a morte encefálica.
O presente trabalho tem como objetivo, apresentar através de estudos revisados a importância da intervenção fisioterapêutica respiratória em pacientes com HIC, tendo como principal finalidade apontar os efeitos que a mesma promove na PIC e também colaborar para o acervo de futuros profissionais de fisioterapia intensiva quanto a pesquisas do conteúdo, abordado assuntos como: a hipertensão intracraniana, sua fisiopatologia e a fisioterapia respiratória (FR) em pacientes com HIC abrangendo as técnicas da FR assim como, os efeitos da mesma, gerados em pacientes com HIC.
O propósito deste estudo é aprofundar mais sobre as condutas fisioterapêuticas que podem ser realizada em pacientes com hipertensão intracraniana assim como, as que não podem ser feitas e expor as diversas opiniões de autores sobre as mesmas, com intuito de tirar duvidas de como a fisioterapia respiratória é necessária nessa patologia, visando aprimorar ainda mais o conhecimento sobre este assunto.
- Objetivo
- Objetivo geral
Verificar através de publicações de artigos a fisioterapia respiratória na HIC apontando através de relatos de estudos já feitos as condutas fisioterapêuticas respiratórias em pacientes com essa patologia.
- Objetivos específicos
- Descrever a fisioterapia respiratória na patologia HIC.
- Apontar as condutas adotadas pelo fisioterapeuta em pacientes com HIC.
- Analisar os efeitos que a fisioterapia respiratória exerce no HIC.
- Hipertensão Intracraniana
O conteúdo intracraniano é composto de tecido cerebral (80%), líquor (10%) e sangue (10%). A manutenção da PIC em seus valores normais depende da preservação do volume intracraniano. Qualquer situação que provoque o aumento de volume de um componente intracraniano obriga à redução dos outros componentes, para que não ocorra aumento da PIC. O processo de compensação ocorre com a diminuição do volume de líquor e sangue, uma vez que a massa cerebral é menos compressível (STILLER, 2000).
A Hipertensão intracraniana é definida como o aumento da pressão intracraniana. A PIC, acima de 20mmHg em pacientes adultos, que persiste por mais de 20minutos. Valores normais ou aceitáveis da PIC menores que 10mmHg, com tolerância de até 20mmHg (TOLEDO et al., 2008).
A PIC tem seu valor normal menor que 15mmHg, quando a pressão intracraniana se eleva (>20mmHg) e persiste por mais de 20 minutos considera-se uma condição patológica conhecida como hipertensão intracraniana a HIC (GIUGNO et al., 2003).
Luerssen (1997) apud Almeida et. al., (2014) relata que, ao se esgotarem os mecanismos de compensação, como consequência deste, ocorre o aumento da PIC. A elevação da PIC, por sua vez, pode provocar a redução da perfusão tecidual, levando a agravamento do dano celular por isquemia, tendo como resultado a morte encefálica.
Para classificar a PIC pode utilizar o seguinte critério (GABAROTO, 2006):
- PIC< 10mmHg- Normal.
- PIC de 10 a 20mmHg- Levemente aumentada.
- PIC de 21 a 40- Moderadamente aumentada.
- PIC > 40mmHg- Gravemente elevada
O aumento da PIC pode promover a redução da PPC, se não houver aumento concomitante da pressão arterial média. O resultado dessa diminuição é o prejuízo circulatório com hipóxia cerebral e aumento do edema cerebral, podendo evoluir para morte encefálica nos casos mais graves (ENRIONE, 2001).
A PIC pode variar de acordo com alterações na pressão arterial sistêmica, na respiração, na posição determinada pelo paciente e também pelo aumento do volume de um ou mais componentes cranianos. O aumento do volume do parênquima ocorre por crescimento celular anormal (neoplasias, hematomas, abscessos, granulomas e cistos congênitos), por aumento de líquido (hidrocefalia congênitas ou adquiridas) no espaço intersticial ou no espaço intracelular ou por aumento do volume sanguíneo. (SOLLER apud Almeida et al., 2014).
- Fisiopatologia da HIC
A pressão intracraniana é mantida constante dentro de seus valores normais se o volume intracraniano não variar. O conteúdo intracraniano é composto por: tecido cerebral, líquor e sangue, sendo 80,10 e 10% do volume intracraniano. Qualquer anormalidade que aumente um dos componentes será compensada pela redução de volume dos outros componentes, para que não aja a hipertensão intracraniana que é o aumento da PIC. O equilíbrio ocorre geralmente em função da redução dos volumes: sanguíneo e do líquor, visto que, a massa cerebral é menos compreensível (KUNRATH et al., 2002).
Caso o aumento de volume intracraniano for muito rápido ou se os mecanismos de equilíbrio forem esgotados, a pressão intracraniana se eleva. O aumento da PIC pode diminuir a perfusão tecidual levando a isquemia e morte cerebral (KUNRATH et al., 2002).
Fluxo Sanguíneo Cerebral
Alterações no fluxo sanguíneo cerebral (FSC), são muito importantes na fisiopatologia da HIC. O FSC normal modifica conforme a idade. Em lactantes, tem valor normal de 40ml/100g de tecido cerebral/min, em crianças varia de 75 a 110ml/100g/min, em quanto que em adolescentes o valor é semelhante aos adultos em torno de50ml /100g/min (KUNRATH et al., 2002).
Segundo Kunrath, et. al., (2002), FSC é responsável pela variação da pressão arterial média (PAM), pressão parcial de gás carbônico (paCO²), e pressão parcial de oxigênio (paO²). Quando a paO² é menor que 50mmHg, ocorre vaso dilação progressiva e, caso a paO² estiver em 25mmHg, pode se observar um aumento de até 300% no FSC.
Krunrath et al., (2002), afirma que , O gás carbônico é um potente vasodilatador cerebral. Para cada mm reduzido da paCO² , reduz 1,1ml/100mg /mim do fluxo sanguíneo cerebral. A resposta a variação na paCO² é rápida, sendo o ponto de compensação atingido em 8 a 12 min, já a eficácia é limitada a um período de 24hs sendo que, em alguns pacientes o efeito pode durar apenas 20min.
O metabolismo controla o FSC. Quanto maior o metabolismo, regional superior será o fluxo sanguíneo para a área. Dor, hipertermia, e estímulos sonoros aumentam o metabolismo cerebral. O fluxo sanguíneo cerebral também depende da pressão perfusão cerebral (PPC) (KUNRATH et al., 2002).
Pressão Perfusão Cerebral
A PPC é equivalente à diferença entre a pressão arterial média (PAM) e a PIC, que normalmente deve ser sustentada acima de 50mmHg. Se a pressão de perfusão cerebral se mantiver menor que 50mmHg, haverá uma diminuição no FSC proporcional a redução da PPC, com risco de isquemia cerebral. A capacidade de manter o FSC independentemente da PAM, dentro de certo limiar, conhecida como autorregularão cerebral (KUNRATH et al., 2002).
- Fisioterapia respiratória na HIC
A fisioterapia respiratória (FR) é de suma importância na manutenção das vias aéreas, prevenindo complicações por meio de manobras e posicionamentos específicos, de acordo com o quadro clínico do paciente. Porém as técnicas aplicadas pela FR levam a alterações hemodinâmicas transitórias, podendo causar alterações inclusive da PIC (FRANÇA et al., 2012).
O papel do fisioterapeuta intensivista quanto ao tratamento de pacientes com HIC consiste em: Monitorar a assistência ventilatória, evitar complicações decorrentes do imobilismo, posicionamento adequado do paciente no leito, evitar manobras que venham aumentar a PIC (ALMEIDA, 2014).
Sarmento (2005), afirma que a PaO2 deve ser mantida entre nos limites 80 e 120 mmHg e a saturação acima de 95% pelo ajuste da FiO2, sendo que esta fração inicial deve ser de 100% sendo corrigida após a avaliação do exame de gasometria.
Dias et al., (2000) orienta a evitar modos de ventilação que possam produzir elevação de pressão de vias aéreas, se não houver medida direta da PIC. O posicionamento no leito é um fator importante no controle da PIC.
Níveis pressóricos preferencialmente baixos de pressão expiratória final positiva (PEEP), entre 5 e 8 cmH2O, de acordo com a complacência pulmonar devem ser empregados. O fisioterapeuta deve estar atento às possíveis repercussões da PEEP no valor da PIC. O aumento da PEEP até 12 cm H2O não acarreta alteração na PIC e pode ser aplicada com segurança para os pacientes neurológicos (PANDOVANI, 2015).
No Traumatismo cranioencefálico, os tecidos cerebrais se edemaciam e o dióxido de carbono não aumenta necessariamente o fluxo sanguíneo cerebral. Quando os tecidos cerebrais aumentam de volume no interior do crânio rígido, a (PIC) aumenta acima da pressão arterial cerebral, interrompendo o fluxo sanguíneo ao cérebro e que neste caso a hipoventilação agrava o problema, porque a hipercapnia resultante dilata os vasos cerebrais, aumentando ainda mais a pressão intracraniana (SCANLAN et al., 2000).
Presto (2007), defende que modalidades ventilatórias que não garantam o VC (volume corrente) como a PCV (ventilação controlada a pressão) devem ser evitadas nos paciente com TCE, pois a hipoventilação gera elevação da PCO2 ocorrendo a vasodilatação encefálica e sugere que modalidades controladas a volume sejam utilizadas, por garantirem uma vasoconstrição encefálica reduzindo a PIC e mantendo os níveis de PO2 ao redor de 90 mmHg e a PCO2 entre 28 e 32 mmHg
Para Stiller (2000), as manobras de fisioterapia respiratória podem determinar aumentos significativos na frequência cardíaca, pressão arterial, débitos cardíacos consomem de oxigênio e produção de CO² em pacientes com sedação insuficiente.
A FR pode ser usada em pacientes com PIC inferior a 30mmHg, porém a manobra de aspiração intratraqueal (AIT) aumenta significantemente a PIC ou seja, paciente com HIC essa manobra tem que ser feita com cautela (TOLEDO et al., 2008).
Ferreira, Valenti, Vanderlei (2013), relatou que a manobra de AIT( Aspiração intratraqueal), deve ser realizada com extremo cuidado, por período de tempo curto, apenas quando realmente for necessária, e por um fisioterapeuta que tenha conhecimento sobre a monitorização contínua da PIC e de seus efeitos sobre o organismo humano.
As manobras fisioterapêuticas geram aumento da PIC de forma direta ou indireta. Diretas: bag Squeezing e aspiração endotraqueal; Indiretas: percussão torácica (JONATHAN et al., 2014).
A aspiração endotraqueal em comparação com o bag Squeezing causa menor repercussão na PIC, pois a aspiração necessita de maior reflexo de tosse causando elevação na pressão intratorácica o que interfere no fluxo sanguíneo cerebral (LUERSSEN et al., 2007; NEMER et al., 2005).
Foi feita uma avaliação dos efeitos da FR sobre a PIC e concluiu-se que, a percussão torácica contínua deve ser evitada em pacientes com aumento da PIC e que a aspiração endotraqueal é inevitável, porém deve ser feita de forma cautelosa (NEMER et al., 2005).
As aspirações traqueais devem ser realizadas com cautela, somente quando houver necessidade e com sedação prévia podem ser realizadas, pois a mesma tem influência quanto ao aumento da PIC. Estudo realizado pacientes graves houve aumento da PIC, sem aumento de PAM, após a aspiração, porém sempre com manutenção de PPC acima de 60 mmHg, voltando aos valores basais entre 1e 30 minutos depois. A pressão intratorácica relaciona-se diretamente com a pressão alveolar, que é evidentemente alterada pelas compressões torácicas durante as manobras fisioterápicas (THIESEN et al., 2005).
MHB (manobras de higiene brônquica), que aumentam a pressão intratorácica devem ser evitadas, visto que, também influenciam no aumento da PIC. Pois se tem a diminuição do retorno venoso para o coração e redução da PAM, comprometendo o retorno nervoso cerebral (KNOBEL, 2002).
É necessário que o fisioterapeuta tenha conhecimento do equipamento de monitorização e se sintam confortável em realizar ajustes necessários para monitorização da PIC, proporcionando segurança para as possíveis intervenções fisioterapêuticas. É também importante atentar-se ao posicionamento do paciente no leito, pois a cabeceira deste deve estar posicionada a 30º e a cabeça retificada, esta posição também influencia no controle da PIC (MARTINS, GUIMARÃES apud GODOY, 2010)
- Metodologia
Por meio deste trabalho de pesquisa foi realizada a revisão literária sobre a Fisioterapia respiratória em pacientes com hipertensão intracraniana, abordando a importância da fisioterapia respiratória em pacientes com HIC, descrevendo os efeitos das manobras quanto ao aumento da PIC e mostrando através de relatos de artigos as divergências de tais manobras, abrangendo assim, as corretas condutas da FR nessa patologia. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva que tem como base artigos científicos que enfatizem a fisioterapia respiratória em pacientes com hipertensão intracraniana.
O procedimento metodológico foi realizado da seguinte forma: a) Busca dos artigos utilizando as seguintes palavras-chave: pressão intracraniana, hipertensão intracraniana e fisioterapia respiratória b) Levantamento dos estudos em livros, teses, dissertações, revistas e artigos disponíveis na Internet através de em bibliotecas on-line (Scielo e Bireme) e base de dados da MEDLINE, LILACS e google acadêmico; c) Revisão dos estudos que abordassem hipertensão intracraniana e a fisioterapia respiratória; d) Após a coleta desses materiais, os dados foram sistematizados e analisados mediante suporte teórico do levantamento documental realizado; e) Produção da monografia.
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