A atuação do fisioterapeuta intensivista emoncologia
Atualmente existem poucos estudos com qualidade
metodológica satisfatória quanto à utilização dos recursos fisioterapêuticos em
pacientes oncológicos. Entretanto, mais escasso ainda é o material disponível
para embasar e nortear a prática da fisioterapia dentro de uma Unidade de
Tratamento Intensivo Oncológica 34.
Nesse sentido, o paciente oncológico diferencia-se
em vários aspectos se comparados a outros grupos de pacientes internados na
UTI, desde as particularidades inerentes ao processo neoplásico como a
mielossupressão (anemia, plaquetopenia, e leucopenia), distúrbios de coagulação
e dor, como o processo terapêutico adjuvante, seja curativo ou paliativo, no
combate à progressão tumoral, como a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia
oncológica2.
Para tanto, as condutas intervencionistas
realizadas por parte da fisioterapia, deveriam seguir um rígido protocolo de
atendimento, onde o direcionamento terapêutico, obrigatoriamente, basear-se-ia
nas condições peculiares apresentadas pelo paciente oncológico como a
plaquetopenia, a anemia e a progressão tumoral propriamente dita34.
As instituições estão cada vez mais adotando
protocolos preestabelecidos pelos membros da equipe multiprofissional que atua
nas UTIs, com base nas condições clínicas dos pacientes e nas recomendações
adotadas mundialmente1,20.
Entretanto, não dispomos de protocolos que norteiem
o atendimento fisioterapêutico em nosso serviço de UTI oncológica e nesse
sentido, apresentamos dois protocolos contemplando a fisioterapia respiratória
(Anexo 1) e a fisioterapia motora (Anexo 2) de forma a normatizar o processo de reabilitação em UTI e conferir
maior confiabilidade no manejo do paciente crítico oncológico. Tais protocolos
foram inseridos enquanto rotina fisioterapêutica no ano de 2009 em um centro de
tratamento especializado do Amazonas.
Outra condição própria das neoplasias reside no
fato de que as infecções do trato respiratório estão entre as complicações mais
comuns no paciente com câncer25,27. Uma série de fatores aumenta a
suscetibilidade à infecções no paciente oncológico como a modificação e
alteração do sistema imunológico advindos da própria neoplasia32,18.
O próprio tratamento adjuvante oncológico, composto
pela tríade quimioterapia, radioterapia e cirurgia, contribui sobremaneira para
aumentar o risco de infecções graves. Muitos dos quimioterápicos em voga
atualmente são mielossupressores, facilitando a penetração de microorganismos
no hospedeiro; a corticoterapia é imunossupressora; a radioterapia ocasiona
perda da integridade funcional e a intervenção cirúrgica eleva o risco de
infecção associado à mielossupressão27,28.
Além disso, outros fatores como a colonização por
bactérias hospitalares resistentes, a desnutrição e caquexia associada à baixa
ingesta e o uso de procedimentos invasivos como sondas, catéteres, punções e
nutrição parenteral prolongada, comprometem ainda mais a integridade das
barreiras mecânicas do organismo, conferindo ao paciente maior risco de
infecção 28 .
Com o atual reconhecimento da fisioterapia como
elemento imprescindível no combate e melhora das infecções do trato
respiratório, a partir de técnicas e manobras já bem estabelecidas, a
fisioterapia respiratória (FR) se apresenta como uma poderosa terapêutica a
compor o manejo do paciente oncológico internado na UTI como coadjuvante à
antibioticoterapia28,34.
A fisioterapia respiratória objetiva
primordialmente, melhorar a função respiratória por meio de outras funções como
ventilação/perfusão (V/Q), distribuição e difusão, visando promover e manter
níveis adequados de oxigenação e de gás carbônico na circulação, preservando a
ventilação pulmonar7.
As manobras de FR consistem em técnicas manuais,
posturais e cinéticas, que podem ser aplicadas no doente, associando-se aos
recursos do ventilador mecânico. As manobras convencionais de desobstrução
brônquica podem ser: a drenagem postural, a percussão torácica ou tapotagem, a
compressão torácica, a vibração torácica (manual e mecânica), os exercícios
respiratórios, a aspiração de secreção endotraqueal e a tosse além de outras
menos convencionais, como a hiperinflação manual (HM) e a pressão negativa 18,30,21.
As manobras de higiene brônquica são utilizadas
para mobilizar e remover as secreções nas vias aéreas, no sentido de melhorar a
função pulmonar. Entretanto, em algumas situações, a fisioterapia respiratória
pode ser lesiva ao paciente, principalmente ao paciente crítico, pois ele pode
não suportar o manuseio, mesmo pouco intensos e habituais, de uma UTI 4.
As manobras de higiene brônquica como drenagem
postural, tapotagem, vibração, compressão expiratória, aceleração do fluxo
expiratório entre outras, assim como manobras de reexpansão pulmonar, podem ser
realizadas em pacientes oncológicos respeitando os valores das plaquetas,
coagulograma e limiar da dor. Quando a intervenção se faz necessária, mesmo com
valores laboratoriais alterados, opta-se por manipulações “leves” 27.
Ao que parece, a realização da aspiração das vias
aéreas em pacientes oncológicos indiscriminadamente, ainda corrobora o antigo
paradigma, de que todo atendimento com qualidade em fisioterapia respiratória,
deve impreterivelmente terminar com a aspiração das vias aéreas. No entanto,
mesmo que o nível de evidência junto ao III consenso de ventilação mecânica
seja baixo, a aspiração é um processo invasivo e requer uma investigação
sistemática que ratifique a sua real necessidade, pois acarreta uma série de
efeitos colaterais 34.
A realização da aspiração não deve ser sistemática
e sim baseada na necessidade individual16. A avaliação de ruídos
pulmonares, agitação do paciente, diminuição da oximetria e mudanças do padrão
respiratório são indicativas de acúmulo de secreção, no entanto nenhum
parâmetro foi validado ainda16. Apesar de ser claro que a aspiração
remove as secreções das vias aéreas, esta também está associada ao
desenvolvimento de hipoxemia, instabilidade hemodinâmica, lesões e hemorragias
locais27. O uso de sedação tópica na sonda, pré-oxigenação e preparo
profissional minimizam estas ocorrências.
Em concordância, Jerre (2010) define que a
avaliação da necessidade da aspiração pelo fisioterapeuta deve ser sistemática,
em intervalos fixos e, também, na presença de desconforto respiratório. A
aspiração é um procedimento invasivo, bastante irritante e desconfortável para
os pacientes 20.
Em
pacientes oncológicos críticos, onde a mielossupressão e a plaquetopenia são
fatores de considerável relevância, o risco aumentado de infecção presente no
manejo da aspiração das vias aéreas, associado ao risco inerente da técnica no
desenvolvimento de sangramentos locais, reforçam a necessidade de a aspiração
ser realizada mediante indicativos colhidos que justifiquem a sua realização e
não uma prática baseada em paradigmas já ultrapassados 34.
A
vibrocompressão, excetuando a aspiração das vias aéreas por se tratar de uma
intervenção não realizada unicamente por fisioterapeutas, foi a técnica mais
utilizada durante o atendimento fisioterapêutico prestado a 136 indivíduos,
internados com pneumonia no Hospital Nossa Senhora da Conceição27.
Sendo uma
das manobras mais empregadas na resolução e prevenção ao acúmulo de secreção, a
vibrocompressão é uma conduta de fácil execução e largamente utilizada pela
grande maioria dos fisioterapeutas. Entretanto, passível de contra-indicações,
seu uso indiscriminado e na inobservância de suas indicações, implicará em
efeitos adversos aos esperados27,29,30.
Entretanto, os níveis de plaquetas devem ser
observados, principalmente em doentes críticos oncológicos, sendo naqueles com níveis de plaquetas abaixo
de 50.000 mm3, a vibrocompressão deve ser executada após julgamento
criterioso e a níveis abaixo de 20.000 mm3, apenas a vibração sem a
usual associação com a compressão da caixa torácica 27,34 (ANEXO 1).
A manobra
de compressão/descompressão torácica é uma técnica muito utilizada e muito
eficaz. Alguns autores também a caracterizam como reexpansiva, apesar de seus
benefícios como manobra desobstrutiva serem mais amplos25,29.
O
objetivo principal da pressão expiratória é desinsuflar os pulmões.
Fisiologicamente ocorre uma diminuição do espaço morto e, consequentemente, do
volume residual (VR); aumento do volume corrente (VC ou Vt) e maior
ventilação pulmonar, que, por sua vez, oxigenará melhor o sangue. Objetiva-se
também com esta manobra um ganho de mobilidade da caixa torácica, bem como um
auxílio na mobilização de secreções. Na sua parte final, assiste e estimula a
tosse, por uma provável tendência de colapso das vias aéreas26.
A manobra de compressão-descompressão como uma
manobra de reexpansão pulmonar, a ser utilizada na vigência da diminuição da
expansibilidade torácica, somada a redução do murmúrio vesicular na ausculta
pulmonar 25,29,32.
Quanto ao seu emprego e segundo a sua realização é
segura a níveis de plaquetas acima de 50.000 mm3, visto que a força
compressiva exercida pelo fisioterapeuta pode exacerbar as condições relativas
à plaquetopenia, além de apresentar contra-indicações absolutas no caso de
fraturas ou fissuras das costelas28.
O direcionamento de fluxo tem por objetivo
fundamental, direcionar o fluxo de ar para um dos pulmões a fim de expandí-lo e
indicados na vigência de redução localizada da expansibilidade25,27.
Em nosso protocolo, sugerimos sua execução quando baseado na ausculta pulmonar,
observamos uma diminuição do murmúrio vesicular, associado à diminuição da
expansibilidade torácica. Classificado como uma manobra essencialmente
reexpansiva, usualmente não induz a efeitos pronunciadamente deletérios ao
paciente, de forma que entendemos que sua aplicação pode ser realizada em
pacientes com níveis de contagem de plaquetas de até 20.000 mm3, 34.
A drenagem postural (DP) é uma técnica extremamente
eficaz, porém pouco utilizada na prática25. A técnica consta em
posicionar o paciente em decúbitos que favoreçam o deslocamento das secreções
brônquicas, por meio do auxílio da força da gravidade associada à anatomia das
vias aéreas29.
A DP pode ser utilizada independente da contagem do
número de plaquetas, onde alguns cuidados devem ser tomados antes e durante a
aplicação da técnica. O paciente não deve ter realizado nenhuma refeição, pelo
menos, 2 horas antes do início da drenagem e a parte hemodinâmica do paciente
deve estar sendo monitorizada regularmente. Pacientes com aumento da pressão
intracraniana tem contra-indicação absoluta à drenagem postural 27,28.
O Shaking é uma
manobra utilizada com a finalidade de acelerar a remoção de secreções através
do sistema de transporte mucociliar26. Realizada apenas durante a
fase expiratória da respiração e após uma inspiração profunda, reforçando,
assim, o fluxo de ar expiratório proveniente dos pulmões 26,29.
Entendemos que a sua aplicação segue os mesmos
preceitos aplicados à manobra de vibrocompressão e seu uso em pacientes
oncológicos obedece, portanto, às mesmas diretrizes vigentes. Podendo substituir
a vibrocompressão ou associar-se a esta 34.
O Bag
skeezing ou hiperinsuflação manual é um recurso fisioterapêutico que pode
ser utilizado para pacientes que cursam com quadro de hipersecreção pulmonar e
tampões mucosos, e que estejam necessitando da utilização de ventilação
artificial, por meio de um aparelho de ventilação mecânica invasiva18,20,32.
Essa manobra está contra-indicada nos casos de
instabilidade hemodinâmica, hipertensão intracraniana, hemorragia
peri-intraventricular grave, osteopenia da prematuridade, distúrbios
hemorrágicos e graus acentuados de refluxo gastroesofágico20.
Quando usada associada à vibrocompressão, sugerimos
seu emprego em pacientes com a contagem de plaquetas acima de 50.000 mm3;
quando utilizada de forma independente, até 20.000 mm3 30.
Autor: Daniel Xavier
Doutorando em em Saúde da criança /
Saúde pública -UMINHO/Portugal
DPTI - Doutorado Profissionalizanteem Terapia Intensiva
MPTI- Mestre em Terapia intensiva
DPTI - Doutorado Profissionalizante
MPTI-
Pós graduado em Fisioterapia em
neurologia, terapia intensiva e oncologia
Coordenador Geral da pós graduação da IAPES-Instituto Amazonense da Aprimoramento e Ensinoem
Saúde
Coordenador da Fisioterapia na UTI/Fcecon
Coordenador Geral da pós graduação da IAPES-Instituto Amazonense da Aprimoramento e Ensino
Coordenador
Preceptor de estágio da residência
multiprofissional em Saúde - FMT
Pesquisador da Fcecon -DCP/CNPQ
www.fisioterapiamanaus.com.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7994818037398569
www.fisioterapiamanaus.com.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7994818037398569
Nenhum comentário:
Postar um comentário