A Fisioterapia em oncologia: O Nascimento de uma nova especialidade
Autor: Daniel Xavier
O ano de 2009 com o reconhecimento da fisioterapia
onco-funcional como especialidade fisioterapêutica, coroou a luta incessante de
todas as organizações e entidades que agiam em prol de uma melhor prestação de
serviços fisioterapêuticos, contemplando o profissional habilitado para lidar
com as nuances e especificidades inerentes tão somente ao paciente oncológico34,22.
Conforme a resolução nº. 364/2009 do Conselho
Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), de 20 de Maio de 2009
e publicado no DOU nº. 112, Seção 1, em 16/6/2009, página 42, Reconhece a
Fisioterapia Onco-Funcional como especialidade do profissional Fisioterapeuta e
dá outras providências:
“…
Considerando a necessidade de prover, por meio
de uma assistência profissional adequada e específica, as exigências
clínico-cinesiológico-funcionais dos indivíduos
portadores de débitos funcionais, decorrentes de
doenças oncológicas.”
O
fisioterapeuta, assim como os demais profissionais da área da saúde estão
sujeitos a presenciarem frequentemente situações de óbito, devendo este estar
preparado para tais ocorrências. No entanto, durante os cursos de formação
profissional, primou-se pela qualidade técnico-científica, subvalorizando os
aspectos humanistas. Os cursos de fisioterapia raramente abordam as
necessidades dos pacientes terminais e tampouco o tema morte, resultando em
profissionais que se baseiam somente em conceitos técnicos e dão pouco crédito
aos relatos do paciente22.
Quando o profissional está apto a prever as
possíveis complicações, consequentemente estará mais bem preparado para o caso
destas ocorrerem. A ocorrência de úlceras de decúbito, infecções, dispneia ou
parada cardiorrespiratória, são alguns exemplos de complicações que se forem
deixados para terem seus cuidados decididos na hora em que acontecem podem
levar a tomada de decisões equivocadas ou errôneas, além de causar um custo
adicional ao tratamento desta complicação24,22 .
A terapia física, a seleção de técnicas deve
respeitar sua utilidade e os resultados esperados. Implementar técnicas
fisioterapêuticas sem estabelecer objetivos claros gera insegurança para o
profissional e diminuem a confiança do paciente. O benefício a ser buscado é
preservar a vida e aliviar os sintomas, dando oportunidade, sempre que
possível, para a independência funcional do paciente24,25.
A
fisioterapia onco-funcional é uma especialidade que tem como objetivo
preservar, manter, desenvolver e restaurar a integridade cinético-funcional de
órgãos e sistemas do paciente, assim como prevenir os distúrbios causados pelo
tratamento oncológico19.
O
fisioterapeuta onco-funcional deve estar apto para desenvolver suas atividades
com pacientes infantis, adolescentes, adultos jovens e idosos, em situações que
vão desde a cura aos casos em que ela é irreversível, e desenvolver seus
programas de tratamento dentro deste contexto22. O profissional
dessa área deve saber lidar com as sequelas próprias do tratamento oncológico,
atuando de forma preventiva para minimizá- las19,34.
A existência de poucos trabalhos que contemplam a
fisioterapia onco-funcional reflete a contextualização de uma das mais recentes
especialidades do fisioterapeuta. Imperioso, portanto, que as instituições, bem
como os profissionais que desenvolvem seu trabalho com este grupo específico de
pacientes, procurassem e disponibilizassem cursos de aprimoramento profissional
e que sejam ofertadas maiores possibilidades de especializações nesta área
única da atuação fisioterapêutica 34.
Entrementes, é necessário também que as
Instituições de Ensino Superior (IES), reformulem as suas grades curriculares
de forma a oferecerem para seus graduandos à possibilidade de vivenciarem em
caráter teórico-prático a área da oncologia. Fundamentando, portanto, a
formação integral do futuro profissional com experiência e vivência em todas as
especialidades que contemplam a fisioterapia atualmente34 .
A Unidade de Tratamento Intensiva Oncológica
A fisioterapia
dedicada ao paciente crítico tem seu início no mundo na década de 1950 com a
crise da poliomielite. Inicialmente tinha seu enfoque na assistência
ventilatória com manuseio dos ventiladores não invasivos chamados de pulmão de
aço (Iron Lung). Após este período, vem sido incorporada ao atendimento dos
pacientes principalmente no aspecto respiratório, a chamada fisioterapia
pneumo-funcional, e a neurológica então neuro-funcional15.
No ano de
2011 através da resolução COFFITO Nº
392, de 04 de outubro de 2011 -(DOU nº. 192, Seção 1, em 05/10/2011,
página 160) - Reconhece a
Fisioterapia em
Terapia Intensiva como especialidade do profissional
fisioterapeuta o que estabelece normas e diretrizes que nortearão a formação de
profissionais habilitados e capacitados no manejo do paciente criticamente
enfermo internado na UTI.
Nos últimos anos, avanços nos cuidados dos pacientes com câncer
possibilitaram maior probabilidade de controle ou cura da doença. Entretanto,
os usos de tratamentos quimioterápicos e cirúrgicos mais agressivos implicam
diretamente na maior utilização de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo
(UTI)19. Também, na última década, estudos têm demonstrado que os
avanços recentes nos cuidados intensivos se traduziram na redução da
mortalidade de pacientes críticos com câncer, mesmo em populações de maior
risco como pacientes com sepse ou submetidos à ventilação mecânica21.
Uma UTI
de hospital oncológico guarda características próprias em relação às UTIs
gerais, pois permite admissão de pacientes que não teriam espaço em outras
unidades por questões éticas e necessidade constante de rotatividade pela falta
de vagas2.
Entretanto,
ainda que o papel da fisioterapia intensiva atualmente esteja bem estabelecido
dentro dos critérios de inclusão e atuação como componente da equipe
interdisciplinar, o seu papel em áreas específicas como a prestação de serviços
em uma UTI
oncológica, carece de respaldo técnico-científico34.
As
particularidades inerentes a estes clientes como o caráter progressivo de suas
disfunções clínicas, a mielossupressão, a maior predisposição às infecções das
vias respiratórias, a caquexia, a plaquetopenia, as alterações
cinético-funcionais provenientes da intervenção cirúrgica e das técnicas
adjuvantes ao controle/combate da neoplasia, parecem em um primeiro momento
contra-indicar ou no mínimo tornar o processo fisioterapêutico menos atuante27,34.
A
intervenção fisioterapêutica em pacientes oncológicos é relativamente recente,
a sua aceitação enquanto medida terapêutica efetiva ainda é controversa, na
medida em que a existência do paradigma câncer-morte ainda impera e resiste na
mentalidade e no manejo do cliente oncológico34.
Em todos
estes pacientes, o câncer e sua intervenção terapêutica necessária muitas vezes
produzem significativa perda funcional permanente ou em longo prazo, requerendo
reabilitação para retorno do indivíduo à independência funcional e para
melhorar a qualidade de vida2.
A
fisioterapia intensiva em oncologia apresenta um considerável leque de
possibilidades terapêuticas para o manejo do paciente grave internado nas UTIs,
entretanto, as indicações e contra-indicações das manobras usuais, bem como
seus objetivos terapêuticos, se mostram insuficientes como norteadores dos
procedimentos e das condutas profissionais, principalmente ao estendermos a
prestação de serviço ao cliente oncológico 34.
Insta: @intensivistaxavier
Site: www.fisioterapiamanaus.com.br
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