Entre 2002 e 2008,
formaram-se apenas 63 fisioterapeutas oncológicos segundo o Instituto Nacional
do Câncer (INCA), revelando uma evidente impopularidade dessa especialidade
entre os fisioterapeutas. Diante disso, o que o levou a escolher essa área,
tornando-se integrante desse recluso grupo? Quais as dificuldades que o senhor
enfrentou ao longo de sua formação?
DX- Bom, na verdade estes números
refletem apenas àqueles que efetivamente prestaram a prova de especialidades,
entretanto, ao se pensar em pós graduados em fisioterapia em oncologia, teremos
um número um pouco maior, entretanto, em se tratando de uma das especialidades
mais relevantes dentro da fisioterapia, o número e ínfimo.
Minha escolha se deu desde a
formação onde pude vivenciar o dia a dia de um hospital oncológio, no caso o
Hospital A/C Camargo de São Paulo, onde tive a honra de concluir a minha pós
graduação. Desde esse momento, em meados de 2000, nunca me afastei da lida com
pacientes oncológicos. Em relação à dificuldades, ressalto que nos primórdios,
nossa pos graduação era ministrado exclusivamente por médicos o que,
infelizmente, não abordava de forma direta a reabilitação dessa classe de pacientes.
Acredito que com a popularização da fisioterapia como um todo, enquanto parte
integrante do processo de reabilitação e reinserção do paciente junto à
sociedade, a fisioterapia em oncologia alcançara em breve período de tempo o
lugar de destaque que lhe compete.
2. A Fisioterapia na oncologia é novidade nas ciências da saúde. Na
literatura, ainda há poucos estudos sobre a prática fisioterapêutica no controle
da dor oncológica e na prevenção de complicações. Há dificuldades em trabalhar
em uma área com pouco referencial teórico científico?
Sim. Entretanto, como nas demais
especialidades temos pessoas despojadas e corajosas que se dispõem a se
aventurarem na elaboração, condução e execução de pesquisas científicas e digo
isso, pois, as dificuldades são incomensuráveis, como a falta de subsídio e
apoio institucional, desinteresse entre os pares entre outras. Apesar das
dificuldades, sou responsável direto por duas linhas de pesquisa junto a
FCECON/AM: A fisioterapia em oncologia e a fisioterapia intensiva em e membro
do DGP/CNPQ - Diretório nacional de pesquisadores e temos produzido alguns trabalhos
relevantes, não apenas em caráter nacional , mas também internacional.
A dificuldade surge, segundo minha
opinião, sob dois aspectos: Pouca abordagem acadêmica direcionada a
fisioterapia em oncologia; são pouquíssimas as faculdades ou universidades que
contemplam a fisioterapia em oncologia e infelizmente, a transmissão de
conhecimentos equivocados e ultrapassados no meio acadêmico, o que compromete
ainda mais a nossa especialidade.
Gostaria de lembrar que em um
esforço hercúleo, a nossa associação ABFO - Associação brasileira de fisioterapia
em oncologia, está finalizando o manual de condutas em fisioterapia em
oncologia e este de fato, será um divisor de águas. Informo também que possuo
uma obra que trata exclusivamente sobre oncologia, desde 2014.
3. Por questões históricas, a fisioterapia ainda é vista como
exclusividade do processo de reabilitação de lesões. Há algum estranhamento por
parte dos pacientes ao saber que receberão cuidados de um profissional
fisioterapeuta? Em caso afirmativo, como superar essa primeira impressão?
Sempre! nossa profissão é
estigmatizada pela sociedade, talvez por culpa nossa que não apresentamos de
uma forma clara e objetiva, todas as nossas habilidades e nossa atuação em
diversas áreas e especialidades, além de atuar em condições primárias,
secundárias e terciárias. O grau de comprometimento, a expertise e a inter-relação
pessoal, cultivadas pelo fisioterapeuta, logo em um primeiro momento e em se
observando as melhoras significativas, caem por terra e o paciente reconhece no
fisioterapeuta especialista em fisioterapia em oncologia, torna-se fundamental
e extremamente importante no processo de recuperação e reintegração deste na
sociedade.
4-O senhor publicou um livro voltado para a graduação que trata da
Fisioterapia oncofuncional, revelando uma preocupação na formação de
profissionais para esta área. Contudo, a oncologia ainda não está inclusa como
obrigatoriedade na grade curricular do referido curso, o que dificulta a
obtenção de conhecimentos por parte de futuros profissionais sobre a atuação do
fisioterapeuta nessa área. Mesmo com tal fato, no momento, quais as medidas
cabíveis para a propagação de conhecimento sobre a oncologia e também para a
melhor formação de profissionais que futuramente poderão atuar nela?
Bom , vamos lá! estamos falando
de uma condição e de uma doença que até 2050, suplantará as doenças de origem
cardiovasculares e será a mais insidiosa sobre a população humana; no momento,
esta ocupa a segunda colocação em mortalidade, excetuando-se crimes com mortes
violentas. Com os avanços tecnológicos, as políticas nacionais para a detecção
precoce do câncer, a disponibilidade de
tratamentos mais adequados e a melhora na prestação dos cuidados voltados ao
paciente oncológico, e somado a tudo isso, observamos que a população mundial e
a brasileira, vive mais e consequentemente se torna mais suscetíveis ao
aparecimento de doenças crônicas e em especial ao câncer! A primeira medida
cabível, consiste simplesmente no reconhecimento da fisioterapia enquanto
ciência que participa ativamente do processo de saúde-doença, ao assumirmos
verdadeiramente esse papel, devemos ter no câncer, um problema de saúde pública
e entender que a relevância da fisioterapia consiste em buscar potencialidades,
reinserir esse paciente novamente na sociedade e garantir dignidade aos mesmos.
Esse é nosso papel, essa é a nossa responsabilidade!
5. A oncologia foi oficializada como uma especialidade da Fisioterapia
pelo COFFITO em 2009. Entretanto, levando em consideração seu currículo,
podemos constatar que sua atuação nessa área já acontece há aproximadamente 14
anos. Tendo isso em vista, o que o senhor pode observar em relação ao
desenvolvimento da Fisioterapia Oncológica e quais são as perspectivas para
esta?
Minhas expectativas são as
melhores possíveis. Sou um profissional que sempre trabalhou com pacientes
oncológicos, sou , portanto, um pessoa positiva por excelência. Presenciei
vitórias praticamente inconcebíveis , acompanhei nosso desenvolvimento no
combate ao câncer; observo cada vez mais nossos pacientes apresentarem uma taxa
de mortalidade e morbidade cada vez menores; Nossos pares cada vez mais habilidosos
e preparados e principalmente, uma associação (ABFO)que luta incansavelmente
por nortear e direcionar as melhores condutas e procedimentos aos pacientes
oncológicos.
Acredito piamente que nos
próximos anos teremos cada vez mais profissionais habilitados e capacitados
para o trato com o paciente oncológico e espero uma mudança significativa em
nossa grade curricular defasada e quase caduca. Os tempos são outros, a
realidade é outra. Precisamos nos adequar o quanto antes a essa nova realidade,
onde o câncer é um problema de saúde pública e que a fisioterapia tem um lugar
fundamental nesse processo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário