domingo, 5 de junho de 2016

Entrevista concedida a Universidade Federal do Ceará ; Fisioterapia em oncologia 1° parte.

Com imensa satisfação e muito honrado pelo convite proveniente da UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, posto a primeira parte da entrevista.
Entre 2002 e 2008, formaram-se apenas 63 fisioterapeutas oncológicos segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), revelando uma evidente impopularidade dessa especialidade entre os fisioterapeutas. Diante disso, o que o levou a escolher essa área, tornando-se integrante desse recluso grupo? Quais as dificuldades que o senhor enfrentou ao longo de sua formação?
DX- Bom, na verdade estes números refletem apenas àqueles que efetivamente prestaram a prova de especialidades, entretanto, ao se pensar em pós graduados em fisioterapia em oncologia, teremos um número um pouco maior, entretanto, em se tratando de uma das especialidades mais relevantes dentro da fisioterapia, o número e ínfimo.
Minha escolha se deu desde a formação onde pude vivenciar o dia a dia de um hospital oncológio, no caso o Hospital A/C Camargo de São Paulo, onde tive a honra de concluir a minha pós graduação. Desde esse momento, em meados de 2000, nunca me afastei da lida com pacientes oncológicos. Em relação à dificuldades, ressalto que nos primórdios, nossa pos graduação era ministrado exclusivamente por médicos o que, infelizmente, não abordava de forma direta a reabilitação dessa classe de pacientes. Acredito que com a popularização da fisioterapia como um todo, enquanto parte integrante do processo de reabilitação e reinserção do paciente junto à sociedade, a fisioterapia em oncologia alcançara em breve período de tempo o lugar de destaque que lhe compete.

2. A Fisioterapia na oncologia é novidade nas ciências da saúde. Na literatura, ainda há poucos estudos sobre a prática fisioterapêutica no controle da dor oncológica e na prevenção de complicações. Há dificuldades em trabalhar em uma área com pouco referencial teórico científico?
Sim. Entretanto, como nas demais especialidades temos pessoas despojadas e corajosas que se dispõem a se aventurarem na elaboração, condução e execução de pesquisas científicas e digo isso, pois, as dificuldades são incomensuráveis, como a falta de subsídio e apoio institucional, desinteresse entre os pares entre outras. Apesar das dificuldades, sou responsável direto por duas linhas de pesquisa junto a FCECON/AM: A fisioterapia em oncologia e a fisioterapia intensiva em e membro do DGP/CNPQ - Diretório nacional de pesquisadores e temos produzido alguns trabalhos relevantes, não apenas em caráter nacional , mas também internacional.
A dificuldade surge, segundo minha opinião, sob dois aspectos: Pouca abordagem acadêmica direcionada a fisioterapia em oncologia; são pouquíssimas as faculdades ou universidades que contemplam a fisioterapia em oncologia e infelizmente, a transmissão de conhecimentos equivocados e ultrapassados no meio acadêmico, o que compromete ainda mais a nossa especialidade.
Gostaria de lembrar que em um esforço hercúleo, a nossa associação ABFO - Associação brasileira de fisioterapia em oncologia, está finalizando o manual de condutas em fisioterapia em oncologia e este de fato, será um divisor de águas. Informo também que possuo uma obra que trata exclusivamente sobre oncologia, desde 2014.

3. Por questões históricas, a fisioterapia ainda é vista como exclusividade do processo de reabilitação de lesões. Há algum estranhamento por parte dos pacientes ao saber que receberão cuidados de um profissional fisioterapeuta? Em caso afirmativo, como superar essa primeira impressão?
Sempre! nossa profissão é estigmatizada pela sociedade, talvez por culpa nossa que não apresentamos de uma forma clara e objetiva, todas as nossas habilidades e nossa atuação em diversas áreas e especialidades, além de atuar em condições primárias, secundárias e terciárias. O grau de comprometimento, a expertise e a inter-relação pessoal, cultivadas pelo fisioterapeuta, logo em um primeiro momento e em se observando as melhoras significativas, caem por terra e o paciente reconhece no fisioterapeuta especialista em fisioterapia em oncologia, torna-se fundamental e extremamente importante no processo de recuperação e reintegração deste na sociedade.

4-O senhor publicou um livro voltado para a graduação que trata da Fisioterapia oncofuncional, revelando uma preocupação na formação de profissionais para esta área. Contudo, a oncologia ainda não está inclusa como obrigatoriedade na grade curricular do referido curso, o que dificulta a obtenção de conhecimentos por parte de futuros profissionais sobre a atuação do fisioterapeuta nessa área. Mesmo com tal fato, no momento, quais as medidas cabíveis para a propagação de conhecimento sobre a oncologia e também para a melhor formação de profissionais que futuramente poderão atuar nela?
Bom , vamos lá! estamos falando de uma condição e de uma doença que até 2050, suplantará as doenças de origem cardiovasculares e será a mais insidiosa sobre a população humana; no momento, esta ocupa a segunda colocação em mortalidade, excetuando-se crimes com mortes violentas. Com os avanços tecnológicos, as políticas nacionais para a detecção precoce do câncer,  a disponibilidade de tratamentos mais adequados e a melhora na prestação dos cuidados voltados ao paciente oncológico, e somado a tudo isso, observamos que a população mundial e a brasileira, vive mais e consequentemente se torna mais suscetíveis ao aparecimento de doenças crônicas e em especial ao câncer! A primeira medida cabível, consiste simplesmente no reconhecimento da fisioterapia enquanto ciência que participa ativamente do processo de saúde-doença, ao assumirmos verdadeiramente esse papel, devemos ter no câncer, um problema de saúde pública e entender que a relevância da fisioterapia consiste em buscar potencialidades, reinserir esse paciente novamente na sociedade e garantir dignidade aos mesmos. Esse é nosso papel, essa é a nossa responsabilidade!

5. A oncologia foi oficializada como uma especialidade da Fisioterapia pelo COFFITO em 2009. Entretanto, levando em consideração seu currículo, podemos constatar que sua atuação nessa área já acontece há aproximadamente 14 anos. Tendo isso em vista, o que o senhor pode observar em relação ao desenvolvimento da Fisioterapia Oncológica e quais são as perspectivas para esta?
Minhas expectativas são as melhores possíveis. Sou um profissional que sempre trabalhou com pacientes oncológicos, sou , portanto, um pessoa positiva por excelência. Presenciei vitórias praticamente inconcebíveis , acompanhei nosso desenvolvimento no combate ao câncer; observo cada vez mais nossos pacientes apresentarem uma taxa de mortalidade e morbidade cada vez menores; Nossos pares cada vez mais habilidosos e preparados e principalmente, uma associação (ABFO)que luta incansavelmente por nortear e direcionar as melhores condutas e procedimentos aos pacientes oncológicos.

Acredito piamente que nos próximos anos teremos cada vez mais profissionais habilitados e capacitados para o trato com o paciente oncológico e espero uma mudança significativa em nossa grade curricular defasada e quase caduca. Os tempos são outros, a realidade é outra. Precisamos nos adequar o quanto antes a essa nova realidade, onde o câncer é um problema de saúde pública e que a fisioterapia tem um lugar fundamental nesse processo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Site da Fisioterapia em Manaus