sexta-feira, 17 de abril de 2009

O Câncer em crianças é detectado muito tarde

O diagnóstico tardio é o maior inimigo das crianças com câncer no Estado. Entre 60% e 70% dos meninos e meninas que chegam à Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCecon) estão em estágio avançado da doença, o que diminui as chances de cura. Referência no tratamento de câncer, a FCecon recebe grande parte dos casos diagnosticados em outros hospitais.

No câncer infantil não existe prevenção porque, neste caso, a doença é essencialmente causada por características genéricas. Nos adultos, os fatores ambientais e comportamentais aumentam o risco da doença, se aliados à genética. Mas eles podem ser evitados. Se um adulto quer diminuir as chances de ter câncer de pulmão, por exemplo, pode manter-se longe dos cigarros. Uma criança não tem a mesma escolha. E é por essa razão que o diagnóstico precoce é fundamental.

A oncohematologista pediátrica Miyuki Guemba confirma o número de crianças que chegam à FCecon com câncer em estágio avançado. A especialista, que atua há cinco anos na fundação, faz um apelo para reverter a situação. "A gente pede que, quando um colega pegue uma criança com quadro diferente do que está acostumado, que pense na possibilidade de câncer e que encaminhe o mais breve possível, que entre em contato com a gente, que discuta o caso", diz.

De acordo com Miyuki, o câncer infantil tem 80% de chance de cura. Mas este índice está ligado diretamente proporcional ao diagnóstico precoce. "Ainda existe muito preconceito e muito medo quando se trata de câncer. Queremos receber crianças com diagnóstico mais precoce para aumentar a suas chances de cura", comenta a especialista.

A médica ressalta que já vai longe o tempo em que a pessoa com câncer estava condenado à morte. "Isso é de 60 anos atrás. A medicina avança todos os dias e já existem medicamentos mais modernos, como o Glivec, que cura leucemia mielóide crônica e está disponível em Manaus pelo SUS", esclarece.

O desconhecimento de alguns profissionais de saúde e a semelhança com outras doenças são obstáculos ao diagnóstico precoce.

Identificação
Diagnosticar câncer não é fácil. Os sintomas gerais se confundem com os de outras doenças normais na infância, como febre, perda de peso, íngua, dor nas pernas e manchas roxas no corpo. A diferença entre os sintomas de doenças corriqueiras e um câncer é o tempo de evolução, muito mais prolongado. No câncer, a perda de peso, por exemplo, pode se arrastar por meses e não será resolvida com tratamento comum.
"Ainda tem o desconhecimento, a dificuldade do colega (médico) raciocinar clinicamente em cima do caso e o medo. As pessoas têm medo de pronunciar a palavra câncer, assim como acontece com a aids", compara Miyuki.

Em Números
54.599 atendimentos foram registrados na FCecon no ano passado. Deste total, 787 eram crianças, o equivalente a 2% de todos os pacientes. 1.361 dos atendimentos tiveram o diagnóstico confirmado para câncer. Da totalidade dos novos diagnósticos, 21 eram de câncer infantil. 2 casos por semana é a média máxima de novos diagnóstico de câncer infantil. Isto equivale a 48 por ano.

Carência
A FCecon possui apenas três oncohematologistas pediátricos e o pequeno número de profissionais especializados na área é outro problema para as crianças com câncer. Além de Miyuki, as outras duas especialistas são Mariana Coelho e Jeanne Lee Coutinho. Na Fundação de hematologia e Hemoterapia do estado do Amazonas (Hemoam), que também trata de câncer infantil (mais precisamente de leucemia e linfoma), também há poucos especialistas na área de hematologia pediátrica.

Escassez de especialistas
No Amazonas há apenas três oncohematologistas pediátricas. Miyuki Guemba, Mariana-Coelho e Jeanne Lee Coutinho trabalham da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas (FCecon) e têm de lidar com uma grande demanda em busca de diagnóstico e tratamento. Além dos pacientes de Manaus, convertem para a fundação pessoas vindas outros Estados da Região e até de países vizinhos, como a Venezuela.

A explicação para o reduzido número de especialistas, dizem Miyuki e Mariana, pode estar na carência do Estado em relação a cursos de especialização na área de oncologia. "A formação ainda se concentra no Centro-Sul, Sul e Sudeste do País e as pessoas ainda têm muito preconceito com a nossa região. Alguns ainda vêem as regiões Norte e o Nordeste como a mesma coisa", comenta a oncohematologista pediátrica Miyuki.

O fato da formação concentrar-se nos grandes centros do País gera outro fator determinante para a falta de especialistas no Amazonas. Muitos médicos que buscam qualificação no Sul não retornam porque acabam encontrando toda uma estrutura que ainda não existe no Amazonas. Eles preferem estabilizar-se a retornar para um Estado onde terão que trabalhar duro e encampar lutas pela melhoria de estrutura. "Nós não temos medo. Mas muito têm. É por isso que a gente atua em uma área que todos consideram difícil", diz Mariana. A recompensa pelo esforço, acrescenta Miyuki, é ver a recuperação das crianças. "É gratificante tirar à dor de uma criança, de dar qualidade de vida a ela".

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