Resenha: A eletroestimulação em terapia intensiva: pacientes críticos.
Coordenador: Daniel Xavier
@intensivistaxavier
No ambiente hospitalar, em
especial nas unidades de terapia intensiva (UTI), estudos recentes apontam para
o aumento na sobrevida dos pacientes devido ao avanço tecnológico e cientifico
aplicado no tratamento da doença. O imobilismo gera um impacto negativo na
terapêutica do paciente critico, pois suas complicações podem prolongar o tempo
de internação, gerar maior risco de agravamento da doença de base e aumentar
custos com o tratamento.
O paciente critico é um indivíduo que
necessita de monitorização continua, por instabilidade de algum dos sistemas
orgânicos que implique risco à vida. Nogueira et.al, observaram 600 pacientes,
que permaneceram em media nove dias na UTI, com casos que chegaram ate 79 dias
de internação. As 24 horas. Tais alterações podem acometer os sistemas
cardiovascular, gastrointestinal, urinário, respiratório, cutâneo e
musculoesquelético.
Pesquisam evidenciam que, em repouso completo
e prolongado, o musculo perdera de 10% a 15% de força por semana e 50% entre
três e cinco semanas, sendo os músculos antigravitacionais os mais atingidos. A
fisioterapia sob a orientação de uma equipe multidisciplinar tem dados
assistência a esses pacientes com terapias que visam reabilitar e manter os
sistemas orgânicos em equilíbrio.
A eletroestimulação neuromuscular (EENM)
consiste na aplicação de uma corrente elétrica, que pode ser de baixa ou media frequência,
através de eletrodos sobre a pele, com vistas a estimular um determinado
musculo. Os estudos pioneiros sobre EENM tem como objeto atletas de alta
performance, desde o inicio dos anos setenta, outras analises mostraram os
efeitos deste recurso no aumento de força muscular, como, por exemplo, o estudo
de Maffiuletti et al, que apresentaram em jogadores de voleibol de elite,
aumento de força isométrica máxima e de altura do salto, após um programa de EENM realizado por um período de quatro semanas.
Examinando os efeitos da técnica de EENM em indivíduos saudáveis e em atletas
pesquisadores interessados na área de reabilitação física, iniciaram estudos no
intuito de verificar se essas técnicas poderiam ser eficientes também em
indivíduos doentes. O artigo abordara detalhes referentes as maneiras pela qual
foi aplicada a eletroestimulação nas populações estudadas.
Dos
cinco artigos encontrados, 3 se encaixaram nos critérios de inclusão que
consistiam em visar sobre os indivíduos portadores de doenças consideradas
graves e com potencial para admissão em ambiente de UTI, foram excluídos
estudos que tratavam de EENM focando exclusivamente o tratamento de distúrbios
musculoesqueléticos isolados.
Os estudos em geral visavam o aumento de grau
de força muscular pela EENM, que relacionavam também a força à função e ao
impacto positivo na qualidade de vida do paciente. Observa-se, na Tabela 2, que
o tempo de duração das terapias variou de 30 a 60 minutos, sendo o quadríceps
femoral o grupo muscular mais estimulados e um em espaço intercostal nas linhas
axilar e media em cada hemotórax do paciente pelos autores. Nos protocolos
aplicados, houve predomínio na utilização da frequência considerada
intermediaria entre 45 a 60 Hz, verificou-se que os autores concordaram em
utilizar uma intensidade capaz de gerar uma contração visível no musculo alvo.
Grande parte dos estudos evidenciaram aumento de força muscular, e diminuição
de tempo em desmame em VMI, com uso da EENM, como visto na Tabela 1.
TABELA
1- Características
dos Estudos Randomizados
Autor/ Ano
|
Características
|
Objetivo
|
Resultados
|
Gruther et. al, 2010.
|
Pacientes
em UTI estratificados em 2 grupos: precoce e tardio.
|
Avaliar
potencia da EENM em (1) retardo da perda de massa muscular quando aplicado
precocemente, e (2) reverte a atrofia muscular em pacientes a longo prazo.
|
A
espessura da camada muscular diminuí, em ambos os grupos de EENM precoce. No
grupo de EENM tardia, houve aumento de massa muscular.
|
Gerovasili et. al, 2010.
|
Pacientes
em UTI, sob VMI, com APACHE II > 13.
|
Avaliar
o efeito da EENM na preservação da massa muscular.
|
A
EENM é bem tolerado e parece preservar a massa muscular pacientes críticos.
|
Melaré e Santos, 2008.
|
Paciente
vitima de TRM cervical alto, em desmame difícil e fraqueza muscular
respiratória.
|
Estimular
o diafragma.
|
Após
os ajustes dos parâmetros de estimulação, foi possível a retirada do suporte
ventilatório e adaptação a respiração espontânea, com alta de UTI.
|
Routsi et. al, 2010.
|
Pacientes
críticos, em UTI, com escore APACHE> 13.
|
Avaliar
a eficácia da EENM na prevenção da polineuromiopatia.
|
Após
sessões diárias de EE pode prevenir o desenvolvimento de polineuropatia em
pacientes criticamente doentes e também resulta em menor tempo de desmame.
|
Abdellaoui A, et. al, 2011.
|
Pacientes
em VEF1 seg.< 70%(espirometria).
|
Analisar
se 6 semanas de EE programada pode melhorar a força muscular durante a
recuperação de exacerbação aguda de DPOC.
|
A aplicação
de um programa de EE seguinte exacerbação da DPOC é uma estratégia eficaz
para contrabalançar a perda da função do musculo
esquelético pela diminuição do estresse oxidativo muscular, em conjunto com
as mudanças significativas na tipologia das fibras musculares.
|
Tabela
2- parâmetros e protocolos dos estudos randomizados.
Autor do estudo
|
Paciente
(quantidade média e desvio padrão).
|
Tratamento
(quantidade de intervenções e duração).
|
Posicionamento dos
eletrodos 9 músculos estimulados).
|
T (us)
|
F (Hz).
|
T (on) em segundos.
|
T off
|
Gruther et al, 2010.
|
33
pacientes/55 a 15 anos.
|
5
sessões de 30 a 60 min.
|
Quadríceps
femoral.
|
350
|
50
|
8
|
24
|
Gerovasili et al, 2009.
|
25
pacientes/ 59 a 21 anos.
|
7
sessões de 55 min.
|
Quadríceps
femoral e fibular longo.
|
400
|
45
|
12
|
6
|
Melaré e Santos, 2008.
|
Um
paciente de 34 anos.
|
7
sessões de 30 a 40 min.
|
Estimulação
diafragmática em 8° espaço intercostal da linha axilar anterior e posterior
do hemitórax do paciente.
|
300
|
-
|
1
|
2
|
Rousti et al,
|
140
pacientes de 58 a 18 anos/ 61 a 19 anos.
|
Sessões
de 55 min. Alta hospitalar.
|
Vasto
lateral e medial e fibular longo.
|
400
|
45
|
1,6
|
6
|
Abdellaoui A et al, 2011.
|
15
pacientes 67 e 59 anos.
|
30
sessões de 60 min.
|
Isquiotibiais
e quadríceps femoral.
|
400
|
35
|
-
|
-
|
No presente estudo parte dos artigos
apresentou resultados positivos sobre o ganho de força muscular ou resistência
muscular. Os resultados de estudos de Gerovasilli et al., mostram que a EENM
apesar de preservar a massa muscular dos pacientes, não impediu a diminuição do
trofismo muscular, mesmo em menor proporção, mesmo comparando com outros estudos.
O estudo de Rousti et al., refere que sessões
diárias com EENM (55min.) estão associados com o menor tempo de ventilação
mecânica, bem como a prevenção do desenvolvimento de polineuromiopatia no
paciente crítico. O mesmo estudo evidencia, como limitação, que os pacientes
não tiveram o grau de força avaliado durante atividades de vida diária. Gruther
et al., mostrou atraso na diminuição na espessura media da camada muscular de
paciente submetidos a EENM a partir de segunda semana de tempo de internação na
UTI. Porem o estudo mostrou mais eficácia em pacientes tardios, em longo tempo,
objetivando a reversão da hipotrofia.
Maloré e Santos,2008, mostrou o caso de
paciente com traumatismo da coluna cervical com uso de VMI prolongada e difícil
desmame teve inicio o trabalho de treinamento muscular inspiratório, através de
períodos de nebulização alternados com FES diafragmática, para ganho de força muscular e endurence
respiratório, na qual obteve grande sucesso, com a retirada do suporte ventilatório
e adaptação a respiração espontânea e com alta da UTI. Abdellaoui et al., observaram
uma diminuição na distancia percorrida na realização do teste de caminhada de 6
minutos em pacientes que realizaram a EENM após a exarcebação do DPOC.
Referências bibliográficas
·
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