MobilizaçãoPrecoce em Pacientes Provenientes de Complicações de SNC
@intensivistaxavier
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma síndrome
neurológica com grande prevalência em adultos e idosos, sendo uma das
principais causas de morbimortalidade no mundo. Segundo a Organização Mundial
de Saúde (OMS), o AVE é a principal causa de incapacidade no Brasil com uma
incidência anual de 108 para cada 100 mil habitantes. Além disso, essa síndrome
é responsável por um número considerável de internações no país, no qual
apresenta um alto custo para o governo.
Diante do exposto, as complicações primárias e secundárias proveniente
dos pacientes pós AVE aumentam a permanência e a restrição desses indivíduos no
leito, fato esse que estando associado à ventilação mecânica e uso de sedação,
potencializa o declínio funcional, o que comina em um elevado risco de
morbidade e mortalidade.
Indicada para prevenir as complicações relacionadas à restrição
prolongada no leito, como a fraqueza muscular adquirida na UTI (FAUTI), bem
como minimizar as sequelas neurológicas oriundas da lesão primária no sistema
nervoso central (SNC), a fisioterapia lança mão a mobilização precoce,
atualmente bastante difundida e embasada quanto a sua seguridade e efeitos nos
desfechos dos doentes criticamente enfermos, muito embora ainda não
estabelecido a real dosagem a ser aplicado neste tipo em particular de
pacientes.
Seguindo esta linha de raciocínio, no que diz respeito à dosagem e
intensidade da mobilização precoce e o tempo para a iniciação da mesma a ser
aplicada nos pacientes pós AVE, os estudos AVERT tem feitos grandes investigações
a respeito desta temática e mostrado os resultados, positivos e negativos, no
que tange a mobilização destes pacientes.
Relato histórico da mobilização precoce pós AVE
A mobilização precoce foi discutida pela primeira
vez em um consenso na conferência sueca de tratamento do AVC em meados dos anos
80, com guidelines já existentes na Noruega e Suécia recomendando esta prática
de tratamento em pacientes internados em unidades de neurointensiva.
A
mobilização precoce ganhou mais notoriedade na década de 90 a partir de ensaios
clínicos realizado por Indredavik e colaboradores que demonstrou que no grupo
que recebeu a mobilização precoce e reabilitação houve uma redução bastante
significativa na mortalidade e incapacidade comparado ao grupo de cuidados
usuais de enfermagem.
Estes estudos também serviram como base para a revisão
sistemática da COCHRANE por Langhorne e colaboradores, que atestaram os efeitos benéficos
da mobilização precoce em pacientes pós AVE.
Contudo, com o intuito de
aprofundar e esclarecer ainda mais os reais benefícios da mobilização precoce
estão os estudos AVERT, que desde 2007 vem investigando, de forma bem
criteriosa, os efeitos da MP, bem como o início e intensidade da terapia nestes
pacientes em particular.
Quanto à segurança e possibilidade da MP nas primeiras 24h
O primeiro ensaio clinico randomizado, bicêntrico
AVERT fase II, em 2007 em Melbourne, Austrália, buscou avaliar a seguridade e
possibilidade da aplicação da mobilização precoce em adultos pós AVE dentro de
24h após admissão e estabilização dos sintomas dos pacientes na UTI comparando
com cuidados usuais da enfermagem nos desfechos de mortalidade e incapacidades.
Os pacientes eram visitados e avaliados aos 7 e 14 dias e aos 3, 6 e 12 meses,
um bom resultado foi predefinido com um score de 0-2 na escala modificada de
Ranking, acima deste score, o resultado era considerado desfavorável. Em
conclusão, este estudo mostrou que a aplicação da mobilização precoce dentro de
24h é segura e possível em pacientes pós estabilização dos sintomas de AVE (que
em media foi de 18.1h), com resultados favoráveis na escala de Ranking em até
12 meses, porém não houve diferença significativa entre os grupos de MP e
cuidados usuais de enfermagem no desfecho de mortalidade
Quanto à eficácia e segurança da MP nas primeiras 24h
Em um clinico randomizado, controlado, multicêntrico e
internacional, envolvendo cinco países (Austrália, Nova Zelândia, Malásia,
Singapura e Reino Unido), o AVERT buscou investigar os efeitos e segurança da
aplicação frequente da mobilização precoce de alta intensidade em adultos
internados em uma UTI dentro de 24h após a estabilização dos sintomas em
pacientes pós AVE comparados com os cuidados usuais de enfermagem. Como
resultados primários favoráveis, predefiniu-se um score de 0-2 na escala
modificada de Ranking (graduados de 0-5 e 6 quando óbito), para a avaliação da
incapacidade em até 3 meses e um resultado desfavorável quando a pontuação
fosse maior do que 2 ou óbito. Dentre os resultados secundários incluiu-se
tempo para uma deambulação de 50m, nível de independência funcional em 3 meses e
eventos adversos.
Definiu-se como MP de alta intensidade a realização de
atividades for a do leito como sentar beira-leito, ortostatismo e deambulação
dentro das primeiras 24h de admissão e estabilização dos sintomas. Como
resultados da aplicação deste protocolo, o grupo que realizou as atividades
apresentou maiores resultados desfavoráveis na escala de Ranking, os quais apresentaram
maior dependência funcional em até 3 meses pós alta da UTI. Concluiu-se,
portanto, que a aplicação da mobilização precoce muito cedo e em alta
intensidade impacta diretamente em um resultado desfavorável no desfecho de
independência funcional em até 3 meses, permitindo, assim, uma adequação de
protocolo de mobilização precoce em pacientes pós AVE.
Em um novo ensaio clinico randomizado, pragmático,
prospectivo, controlado, multicêntrico e internacional, envolvendo os mesmos
países, o AVERT estabeleceu a fase III de seu estudo, com o propósito de
analisar os reais efeitos da frequente aplicação da MP em alta intensidade em
pacientes adultos pós estabilização de sintomas de AVE dentro das primeiras 24h
de internação em uma unidade de tratamento intensivo comparado com cuidados
usuais de enfermagem.
Definiu-se como protocolo de mobilização precoce: a)
iniciar dentro de 24h, b) realização de atividades for a do leito (sedestação
beira-leito, ortostatismo e deambulação) e c) as atividades a serem aplicadas
eram conforme o nível funcional do paciente a partir de uma escala (Tabela 1).
O objetivo deste trabalho foi o de avaliar a eficácia da MP através de
protocolos de atividades, abordando os desfechos de mortalidade e incapacidade
em até 3 meses avaliados pela escala modificada de Ranking, avaliar a redução
de números e gravidades das complicações pós AVE, se melhorou a qualidade de
vida em até 12 meses e o custo-beneficio da mobilização precoce.
Conclusão, os
pacientes do grupo da aplicação do protocolo de MP em alta intensidade
obtiveram um resultado desfavorável no desfecho de independência funcional em
até 3 meses, a qualidade de vida avaliada aos 12 meses foi semelhantes entre os
grupos, contudo uma mobilização mais em dosagens mais baixas pode ser o fator
chave para um desfecho mais favorável.
Tabela 1 Escala de nível funcional
Conclusão
Os AVERT são os maiores e mais abrangentes estudos
controlados e randomizados já realizado e levantam inúmeras questões a respeito
da mobilização muito precoce (dentro de 24h) em pacientes pós AVE, em
particular quais são as reais condições fisiológicas e quais as alterações
moleculares que são induzidas pós AVE podem ser prejudiciais em alguns
pacientes alvos da terapia. Portanto, não se trata apenas da recomendação ou
não da mobilização precoce, pois desta forma se torna muito banal e
praticamente anulam tais resultados já levantados.
Próximo
estudo AVERT
AVERT Dose-frequência da mobilização muito precoce
(dentro de 24h) após estabilização dos sintomas de AVE em pacientes admitidos
em uma unidade de tratamento intensivo, com o objetivo de determinar a dosagem
ótima da aplicação da MP.
Referências
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Botelho TS, Neto
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